quinta-feira, 24 de agosto de 2017

façam tambores do meu couro
chocalhos dos meus dentes
e dos meus ossos façam flautas

se minha vida é o tesouro,
não vai durar eternamente
nada vai me fazer falta

tirem da carcaça um sonido
e belas melodias
e a música que foi Isto
alegrará vossos dias

tirem do coração o ritmo
do tórax, um cajón
e de silêncios que já foram gritos
façam as pausas da canção
como deuses

O mundo é dos instintos
e a razão seu simples instrumento
talvez o melhor, a maior das diretrizes
Ferramenta das emoções, das paixões puras
e de suas formas obtusas
ao contrário do que tu dizes

o frio inexaurível dos con$umidos
o sombrio amor das bruxas
o ego excêntrico dos exibidos

emoção fria
ancestral
mitologia

a culpa humana de sonegar
o peso análogo de a sí negar
ou no peito a cama desfeita

a paixão egoísta dos narcisos
o hábito passional de qualquer vício
E O QUE HÁ DE MAIOR NO MUNDO

Não me digam que o mundo está perdido
por não agirmos por instinto!
No intuito de vivermos como deuses
é que racionalizamos os seus usos
e deliberamos a falta de controle
nossa paixão de gelo

No instinto de virarmos burgueses
é que contabilizamos os seus juros
ávidos por sempre mais! bicho homem!
nossa estranha fome
  
No infinito de algumas vezes
em garrafas que esvaziamos juntos
acreditamos
em felicidades pelos instintos
mas só por eles nós já vivemos
e nós não vemos

que diferença vai fazer tudo isto?
o mundo inteiro que existe
e a história desde o começo
e o que sobrar de mim?

que diferença vai fazer Jesus Cristo?
e qualquer sonho que resiste
e meu caminho desde o berço?
...onde o fim é mesmo o fim

que diferença vai fazer pro meu filho?
e todo o amor que persiste
se o bem e o mal têm um só preço?
se tudo tem que ser assim?
assunção

eu não nasci só pra estar
você nunca me falou
em felicidade
me esquivar é uma arte

eu vou eu mesmo inventar o passo
e também o vôo como um pássaro

eu não aceito o seu pecado,
que a minha culpa é original
então eu pego o meu pedaço
que eu me livre! do seu mau



sob o fogo do Sol

Sob o fogo do Sol
a alma evapora
do corpo que sua
do corpo que sangra
Danação

As horas dissolvem
pensamento e memórias
a terra é tão dura
mas o homem não se zanga
Resignação

O tempo dá a volta
A tarde demora
mas o vento insinua
muito mais que a mudança
da estação

O algoz não é de fogo
mas é mais que carne e osso
face de abstrações

Alguma coisa lhe esconde
Onde está seu horizonte?
Onde dói o coração?

Este sofrimento
que se vê, que se sente
tão profundo, tão imundo
histórica questão

também têm, veja só
suas raízes no presente
À flor da terra estão elas
ao alcance das mãos



sofra até não suportar
mas não diga que é por mim, Jesus Cristo
não quero lhe dever o meu espírito
não quero que me caiba
o nome da serpente
deixe-me ser
este maldito inocente

você pode o mundo abençoar
mas me poupe da sua bênção, ó Jesus
não quero carregar sua cruz
não na minha paleta
não me faça um vingador,
mais um obstinado
do seu inútil horror
o bem, tu e o mal

Tu podes escolher entre o bem e o mal
mas poso dizer que no fim é tudo igual
já que eu não posso convencer a ninguém
já que também
há remorso em se fazer o bem

Tu não sentes?
sensação de perda
como a culpa
de quem mente...
Uma opção eterna
se faz a cada instante...

É como dizer que não existe templo para a moral
tudo gira ao centro da mesma esfera
Já se disse porém
que nada que precises de verdade te dará o mal
e nada que não precises lhe dará o bem que se fizera