De nada
adianta temer o tempo
a vida tem
vida própria
a gente se
esquiva da roda
que a gente
põe em movimento
indiferente
a qualquer desejo
como a
alegria que nos tem abandonado
ou
melancolia desfeita com desprezo
incontrolável
como o próprio acaso
mas é
preciso que lutemos
contra
aquilo que uns chamam de deus
também
contra nós mesmos
contra o
tempo, por esta vida que não se deu
Há no tempo
uma espécie de ciclo
O coração se
rendendo
ao desapego
contínuo
Não se conta
em número
ou em
felicidade
Então creio
que tudo
respeita a
validade
dessa coisa
que muda
Impenetrável,
surda
do que é
feito o mundo
Não é o
relógio que o move
mas registra
sua passagem
através de
uma estrita lógica
Por mais que
a gente olhe
é tão
difícil que se saiba
se essa
máquina misteriosa
poderá ser
vista à sua hora
enquanto a
busca nos entretém
sem grande
anseio de ninguém
por uma
Compreensão sem palavras
Não se culpa
o relógio
quando vem a
boa sorte,
por ser a
via da vida,
mas pela
chegada da morte
Então pra
quê temer o tempo?
se é quase o
mesmo que a vida
de alguma
forma como o vento
ele, às
vezes, também vira
De nada
adianta temer o tempo
a vida tem
vida própria
a gente se
esquiva da roda
que a gente
põe em movimento