domingo, 8 de maio de 2016

é difícil descortinar a realidade
e tirar cada um dos 7 véus
seria tarefa para deus
se ele tivesse mãos e vontade

como nada fazem mãos em prece
se o mundo não acontece nos céus
não bastam, então, os olhos seus
para ver, seja um que merece

mas como olhos de águia veem apenas ratos
e a lente do crente não vê mais nada
tenha olhos rasos d’água por qualquer barato
deixa despretenciosa a alma preparada

pra poder ver o que não é de rastro
o que tampouco é de visão
um pouco de coração, que não é exato
ou será cego entre cegos na multidão

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

qual a tua emoção preferida?
não há nenhuma que dure uma vida,
onde há tempos de pura amargura
e que tornam sempre a trilha mais dura

alguma que te cure as feridas?
uma das boas que te paralise
que te salve das cercas rígidas
qualquer uma que te faça livre

não dá pra eleger a emoção
nem saber qual de todas escolherias
como num sonho em que o segredo se abria
mas onde a Vontade não era ação
veio de cavalo baio
chegado de longa distância
com incumbência de informá-lo
que procedeu-se sua vingança

foi-se embora num tordilho
atravessando aquela estância

mataram seu filho
que era quase uma criança
algoz andarilho
injustiça que chega mansa

mas também já era pai
seu inimigo de matança
dum guri que, é certo, vai
ter ódio e margura como herança

outros lugares, outro dia
se transforma e nos alcança
sangria que esvai
qualquer resto de esperança
cidades são pra ficarem na infância
porque o Mundo é o lugar das andanças

a gente leva junto pelas ruas
onde quer que elas existam
as ruas das primeiras lembranças

não dá bola pra distância
geografias são só circunstâncias

e todas elas um poucos tuas
e de todos que tomam ruas
onde só o caminho não se cansa
vivo me agarro no elástico do tempo
impávido, implacável fogo lento

é o cajado que vira serpente
e vira cajado novamente
congelado de repente
volta a ser fluido e corrente
do tempo o instante é ausente
só sua passagem é algo presente

avalanche
...pedras rolando, rolando...
até ficarem lá na frente!
se desgastam lentamente
pra despencar de quando em quando!


domingo, 29 de novembro de 2015

eu ainda lembro do futuro
como se no tempo tivesse um furo

você estava do meu lado
(mesmo antes de estar lá...)
não quero acreditar que era passado...
apenas o futuro do pretérito
...como uma miragem num deserto...

hoje tem o sol amanhã...
...até as nuvens apagarem a aurora
de outra ideia vã
porque a vida é agora!


terça-feira, 18 de novembro de 2014

a sombra chega cedo no vale dos prédios
o céu é encoberto por nuvens de pedra

O labirinto é um xadrez
e comprime o céu contra a fumaça
e se mistura a este
o labirinto da sua batalha

às vezes orgânico
qualquer refúgio nos foge
não há escape nem abrigo
por entre muros dinâmicos

não se sabe pra onde vamos
e talvez não seja preciso
sei que aqui a solidão
ela se esconde pelos cantos

o labirinto do seu dia-a-dia
sem sabor que não te engana
seu caminho de noite-e-dia
de semana e fim-de-semana

(Não é esta sua vidinha?
sempre igual e diferente
quase como a minha
que não ousa nem pretende)

A calçada da cidade é o fundo do tédio
a origem e um fundo de mar
Se te salvaria desta prévia perda
beber arte ou paixão
(fosse um instante)
amar ou odiar
não sabemos e não há bebida ou remédio

Quem sabe a realidade não é boa e uma tragédia?
...nos lugares onde as nuvens são de pedra!

pedras retas artificiais
belas nuvens
sem vertigem
elas não se movem
(alugam-se imóveis)
que não flutuam que não chovem!
(desordem e ordem)
que não pululam ou se dissolvem
prévia perda perdida em alguma hora que se foi
antes desta cidade

Quem sabe a realidade não é uma boa e não é mesmo
...e não é mesmo só uma tragédia?
...nas aldeias onde as nuvens são pedras...