quarta-feira, 27 de setembro de 2017

De nada adianta temer o tempo
a vida tem vida própria
a gente se esquiva da roda
que a gente põe em movimento

indiferente a qualquer desejo
como a alegria que nos tem abandonado
ou melancolia desfeita com desprezo
incontrolável como o próprio acaso

mas é preciso que lutemos
contra aquilo que uns chamam de deus
também contra nós mesmos
contra o tempo, por esta vida que não se deu

Há no tempo uma espécie de ciclo
O coração se rendendo
ao desapego contínuo

Não se conta em número
ou em felicidade
Então creio que tudo
respeita a validade
dessa coisa que muda
Impenetrável, surda
do que é feito o mundo

Não é o relógio que o move
mas registra sua passagem
através de uma estrita lógica
Por mais que a gente olhe
é tão difícil que se saiba
se essa máquina misteriosa
poderá ser vista à sua hora

enquanto a busca nos entretém
sem grande anseio de ninguém
por uma Compreensão sem palavras

Não se culpa o relógio
quando vem a boa sorte,
por ser a via da vida,
mas pela chegada da morte

Então pra quê temer o tempo?
se é quase o mesmo que a vida
de alguma forma como o vento
ele, às vezes, também vira

De nada adianta temer o tempo
a vida tem vida própria
a gente se esquiva da roda
que a gente põe em movimento

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

façam tambores do meu couro
chocalhos dos meus dentes
e dos meus ossos façam flautas

se minha vida é o tesouro,
não vai durar eternamente
nada vai me fazer falta

tirem da carcaça um sonido
e belas melodias
e a música que foi Isto
alegrará vossos dias

tirem do coração o ritmo
do tórax, um cajón
e de silêncios que já foram gritos
façam as pausas da canção
como deuses

O mundo é dos instintos
e a razão seu simples instrumento
talvez o melhor, a maior das diretrizes
Ferramenta das emoções, das paixões puras
e de suas formas obtusas
ao contrário do que tu dizes

o frio inexaurível dos con$umidos
o sombrio amor das bruxas
o ego excêntrico dos exibidos

emoção fria
ancestral
mitologia

a culpa humana de sonegar
o peso análogo de a sí negar
ou no peito a cama desfeita

a paixão egoísta dos narcisos
o hábito passional de qualquer vício
E O QUE HÁ DE MAIOR NO MUNDO

Não me digam que o mundo está perdido
por não agirmos por instinto!
No intuito de vivermos como deuses
é que racionalizamos os seus usos
e deliberamos a falta de controle
nossa paixão de gelo

No instinto de virarmos burgueses
é que contabilizamos os seus juros
ávidos por sempre mais! bicho homem!
nossa estranha fome
  
No infinito de algumas vezes
em garrafas que esvaziamos juntos
acreditamos
em felicidades pelos instintos
mas só por eles nós já vivemos
e nós não vemos

que diferença vai fazer tudo isto?
o mundo inteiro que existe
e a história desde o começo
e o que sobrar de mim?

que diferença vai fazer Jesus Cristo?
e qualquer sonho que resiste
e meu caminho desde o berço?
...onde o fim é mesmo o fim

que diferença vai fazer pro meu filho?
e todo o amor que persiste
se o bem e o mal têm um só preço?
se tudo tem que ser assim?
assunção

eu não nasci só pra estar
você nunca me falou
em felicidade
me esquivar é uma arte

eu vou eu mesmo inventar o passo
e também o vôo como um pássaro

eu não aceito o seu pecado,
que a minha culpa é original
então eu pego o meu pedaço
que eu me livre! do seu mau



sob o fogo do Sol

Sob o fogo do Sol
a alma evapora
do corpo que sua
do corpo que sangra
Danação

As horas dissolvem
pensamento e memórias
a terra é tão dura
mas o homem não se zanga
Resignação

O tempo dá a volta
A tarde demora
mas o vento insinua
muito mais que a mudança
da estação

O algoz não é de fogo
mas é mais que carne e osso
face de abstrações

Alguma coisa lhe esconde
Onde está seu horizonte?
Onde dói o coração?

Este sofrimento
que se vê, que se sente
tão profundo, tão imundo
histórica questão

também têm, veja só
suas raízes no presente
À flor da terra estão elas
ao alcance das mãos



sofra até não suportar
mas não diga que é por mim, Jesus Cristo
não quero lhe dever o meu espírito
não quero que me caiba
o nome da serpente
deixe-me ser
este maldito inocente

você pode o mundo abençoar
mas me poupe da sua bênção, ó Jesus
não quero carregar sua cruz
não na minha paleta
não me faça um vingador,
mais um obstinado
do seu inútil horror