quinta-feira, 10 de junho de 2021

andar na Terra é andar no gume
de uma lâmina de liso corte
que na velocidade de seu lume
faz o limite entre vida-e-morte

ninguém passa por aqui impune
por mais que fôssemos inocentes
não creio que é isso o que nos une
(e acaso é unida a espécie gente?)
nem que iguale o ser humano
o mais perto disso é o depois,
onde até o tempo se foi
o fim é o que há de mais mundano...
e sua chegada ano após ano
que um pouco nos mata
por cada um que nos aparta
e os outros maltrata quando nos leva

no começo é estranho
a vida soa ingrata
por que ela dá pra deixar sem nada?
pois é isso o que ela nos reserva...

um sentimento de engano,
de nunca mais pisar a relva
de esperar que desça o pano
e a vilã nos envolva em sua treva
  

acontece que pessoas se desenlaçam
caminhos se desenrolam e assim avançam
um pouquinho mais fácil e mais alcançam
porque a sina do destino é ser fugaz...
há tempos tudo já deixou de ser lilás
mesmo depois que as pretas nuvens se esparsam
em cada coisa existe sempre um “mas”
e cada caso é especial, como todos os demais
dos que não se apagam enquanto ainda se passam

considera, amiga, nos deixar pra trás
considera, agora, buscar o que te apraz
categóricas brigas não vão haver mais
nessa hora vai se aplacar o que era quente
vai fundo encontrar a tua paz!
coisas boas nos aguardam, é seguir em frente
o que tá ruim vai acabar, o tempo é sagaz
e numa manhã inspirada decorada de corais
vai sentir que se curou tudo de repente

Praia de La Paloma