quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

olha para a terra
vê todo esse asfalto derramado
endurecido em linhas retas
é vendido e cotado
ao custo do sangue espalhado
pelas mais infames das guerras

olha os nossos países
vê quantas máquinas e veículos
automotores movidos a diesel
e gasolina
a 4,89 o litro
mas ao preço de quantas vidas?

ao desprezo de teus olhos líquidos
pelo pretume do petróleo nas tuas íris
se desfazem nações inteiras
perdes as noções de riqueza
mas apesar de revoltante e triste
isso me parece até algum fetiche
que não se paga em petrodólares
nem com tua cara na capa da Forbes

olha essa mácula maquiavélica:
a geopolítica esgoela – miséria na Venezuela
olha essa mancha de óleo macabra:
guerras santas sádicas – eternamente nas Arábias
ataques midiáticos com embustes patrocinado
dinheiro mal lavado para abutres beneficiários
tudo pelo vil controle de mais um barril:
o golpe civil no coração do Brasil

pra melhor lucrar
com calefação no hemisfério norte
quantos povos vão massacrar?
matança como por esporte
dessas quantas mil mortes...
por combustível vão mascarar?

mas se deus permite
é porque o diabo é quem manda
o ser humano é quem se dana
e nessa sandice
Pacha Mama furada e ferida
se suja de xisto e de piche
lhe jorra desde as tripas...das vísceras até a superfície
eu nunca vi nada mais bizarro
trevas mesmo que faça sol
cérebros virando churrasco
que o ódio fisga como anzol
hordas exaltando carrascos
que nem torcidas de futebol

     hordas exaltando carrascos
     que nem torcidas de futebol

eu vejo jovens de crânio vazio
o planeta virou um grande Brasil
a Atualidade é uma anacronia
como há em qualquer distopia
o futuro ficou no ano 2000
a Idade Média já tem fuzil

     o futuro ficou no ano 2000
     a Idade Média já tem fuzil

a barbárie só tava esperando
internet de bolso pra completar
e eu me pergunto até quando
ainda vamos poder respirar
logo vamos saber falta quanto
pra Adolf Hitler ressuscitar

     logo vamos saber falta quanto
     pra aquele covarde ressuscitar

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019


estou te enchendo de nostalgia
tu vais ver daqui a uns 10 mil dias
nossas frases e gargalhadas
sensações não igualadas
o passado vai ter sabor de aspartame
com aquele gostinho perseverante

vais sorrir como sempre irradias
e o “sempre” junta os dias e ladrilha
teu olhar transparente revigora
é água pura de fonte sonora  
o passado vai ter sons de ecos
vai dar pra imaginar que está perto

a memória até que tangencia
mas admito, costuma ser arredia
e as que gratamente se impõe
são as memórias feitas de emoções
o passado vai ter tons de sépia
vamos tingir nossas telas perpétuas

Valentina, meu filhote de gente
ô pequena, maior parte de mim
é claro que vai ser assim
faltam palavras, por mais que tente
o passado, até onde ele vem?
pra mim, se mesclará com o presente




o céu escorre azul nas frestas
entre os edifícios do centro
permeia as histórias incertas
sob torres de barro e cimento           
onde o vício que é a solidão
põe o mundo fora de questão

um fio do firmamento da cor do cobalto
em uma ou outra perspectiva ligeira
às vezes até encosta na lixa do asfalto
é curioso como la ciudad se apresenta
aqui tudo parece contradição pura
ainda que seja dura, cinzenta demais
não importa o tamanho nem a altura
a arquitetura é noventa por cento ar

e nenhum outra possibilidade está
longe daqui, meu amigo!
sem colunas para lhe sustentar,
o céu também pode te esmagar
é uma fobia que exige abrigo
a imensa claridade pode assustar

                ...e mostrar que não há nada demais em nenhum lugar


quantos poetas já confessaram
que palavras não são suficientes
em versos, prosas e conversas fora?

tantos enlouquecidos já tentaram
com ninguém vai ser diferente
então, por favor, te contenta agora

eu sei o que é, mas não posso explicar
afinal, não são palavras o que sinto
e, no mais, não são tão difíceis de falar

seus conceitos se pode convencionar
mas os sentimentos são instintos
e é você quem tem que completar!

mas como transmitir a voz do peito?
compartilhando-a, ao menos
em vez de esgoelar a brava magia?

como transmitir, seja de algum jeito?
será em pacotinhos pequenos
em vez de exageros e pirotecnias?


refletindo diante da margem
eu diria se me perguntassem
que prefiro os rios de águas barrentas
penso que são os autênticos
descendo os leitos do continente
incontidos com uma fúria lenta

gosto mais de ver a turbidez fluir
não entre cânions, mas enchendo várzeas
camperiando por prados e arrozais
...é que fui criado na crista das águas
que caem pros lados do rio Jacuí
ou pros braços largos do Uruguai


Rio Jacuí e Morro Agudo

sábado, 12 de janeiro de 2019


de vez em quando na sequência de despedidas
enquanto se crê que não há mais nada
na comédia comedida de nossas vidas
a gente se resigna fazendo rimas com risada
e vamos seguindo o total improviso do destino
esse cretino ironizando o fato do prazo ser finito

o humor de cada dia alivia um pouco a nossa carga
com um pouco de fé na vida o vislumbre se alarga
mas se a tristeza existe ela é parte de ser alegre
e compreendendo que se completam, a gente segue

vamos cumprindo o total improviso do destino
assim vamos tragando um certo gosto de absinto
jogando conversa  com esse senhor sem muito tino
num papo de loucos, nenhum de nós sabe o caminho


o Tempo é o tempo que resta
e o dia de ontem está fora do alcance
pessoa, o que passou  não se conserta
por isso o assunto que interessa
é onde se pode chegar nos próximos lances

pode ser um alerta, uma direta
mas a permanência a nada pertence
então não perca as horas em promessas
pois quando passarem, foram tão depressa
é a sua existência, de boa aproveite suas chances

o porvir é também o por fazer
o possível, porém, é um bocado invisível
não se manda no que pode acontecer
e você nem sabe muito de você
...mas isso não ajuda a coisa toda a ser incrível?





parece que virou uma aposta!
a o que tu estás querendo infligir a derrota?
alguma hora ainda vai ser ao teu fígado,
por enquanto deve ser o teu espírito
que estará tentando uma fuga

obcecado que tu nem notas
o quanto ninguém mais se importa
dando de laço em cavalo morto, amigo
não vais mover a estrada um centímetro
talvez ele seja tua mente surda

tu ainda estás chutando a porta
o que esperas achar dentro dessa birosca?
já não tens mais nem que correr o risco
abre os olhos e vê que já era tudo isso!
e agora és tu a coisa que te suga


Ruínas da Casa da Soteia - Santa Maria (cartão postal)