segunda-feira, 4 de abril de 2022

Vivemos tempos de incerteza
do lado errado do mundo
sob um sol de raios fúlgidos
fustigados de absurdos
frustrados com a torpeza
O egoísmo é a pobreza dos mais ricos
o moralismo é uma tara dos pudicos
nós temos que virar a mesa
vergonha alheia pagando mico:
vermes querem a volta dos milicos
seu lugar é no quartel e olhe lá!
roubaram e mataram e mataram pra roubar
o seu próprio povo e povos de outras terras
ameaças contra as massas, golpes e guerras
fardados e engomados e togados gatunos
fazem o mal fingindo consertar o mundo

Pelos inúmeros frontes que chamamos de fronteiras
são casamatas as aduanas e migraciones
onde classificam por meros passaportes os homens
e mercadorias perpassam livres – locais de feira
produtos vão e vêm mas não passam as pessoas
isso é tão bizarro, é cínico, que até me enjoa
pois parecem valer menos que qualquer contrabando
que fica retido mas muito bem acondicionado
com direito a abrigo, sombra, até a ar-condicionado
enquanto o ser humano é humilhado, tão se lixando
mas você não vê os vermes fascistas reclamando  
  


Fronteira é uma coisa que para a grana não existe:
ultrapassa territórios, ética: quaisquer limites
porém mudam de lado como tantas vezes    na História
arrastando vidas, sonhos, inocência    sem misericórdia
e refugiados são tratados como coisas secundárias
ou pior: como objetos ou peças meramente utilitárias
escudos humanos, escravos, prostitutas compulsórias
depois de perder casa, trabalho, entes queridos,
irmãs, irmãos, mães, pais, filhas, filhos, esposas, maridos
avós, avôs, tantos amigos... as alegrias de estar vivo
“cada hora me deprimo... e penso “pra quê eu sirvo?””

A maldade não dá um alívio
pros opressores é um vício
sua ganância aterroriza
A ignorância difundida
é    a   arma do vírus
A utopia é um arco-íris cor-de-cinza
mas assim mesmo longe a gente avista
enquanto paga com suplícios
nas vicissitudes as virtudes
são vacinas ao veneno que confunde
vamos todos cuidar de quem nos cuide

 Quanta provação um povo custa a se formar,

se reconhecer, redefinir e talvez a se amar?
...e um país a existir e a conhecer seus traumas?
...a viver em terra firme... em vez de afundar no magma?
palco de crimes... derretendo em sangue e lágrimas.