terça-feira, 30 de novembro de 2021

preciso me descolar de mim
e deslizar nas ruas por aí
praticar esse autossocorro
pra focar e me distrair
no meu ato de caminhar
nesse espaço que percorro
me aparece uma esplanada
como uma clareira na mata
pra eu dominar com o olhar
e ocupar com meu corpo

eu a completo com minha cara
e o lugar então se significa
através de quem passa ou fica
numa imagem que se espalha
como eu numa forma urbana
misturada com a cidade-humana
que tem nosso sangue nas veias
em nosso sangue a grande aldeia

uma criatura que se espelha
esse lugar estaria em falta
sem a vida que o permeia
seria concreto morto
um tempo que se arrasta
num propósito torto

a natureza em si se basta
mas la città é um erro
se não tiver as ruas cheias
é o território do desterro
daquilo que se descarta
pouco mais que um terreno
de onde se quer sair correndo
como um homem de si mesmo


sou errante
sacola plástica bailando ao vento
delirante
lúcido em errados momentos

eu sou feito de espinhos
assim eu sou minha prisão
posso ser o seu vinho
mas não lhe posso ser o pão

eu fecho os caminhos que eu abro sozinho
sozinho

sou retórica
de alguém que não se aguenta
hipócrita
hipoclorito em água benta

faça o que eu digo, o resto é piada
escolhas eradas: fiz uma de cada
não é lei amigo, só constatação
e amigo é só força de expressão

terra arrasada e pontes queimadas

a práxis
não está na Pravda
a verdade
está além das palavras

de regras cagadas enchemos pilhas
e mais pilhas de páginas
à mão e no ritmo das máquinas
de tratados e exemplos como a Bíblia,
mensagens, memes, jornais e tiras
                          e mais nossas próprias mentiras
                          ...proferidas na cara uns dos outros!
                          deixam na boca até um gosto


*antigo jornal da União Soviética