segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Pro tempo não voltar atrás (grito antifascista)
“A cadela do fascismo está sempre no cio”
Bertolt Brecht
Nós não costumamos ver o jogo
até que o mal decide ganhar
Quem é que vai impedir?
...senão nós que sentimos nojo?
pior que nunca é sem avisar
Quem deixou o esgoto subir?
...senão nosso ignóbil silêncio?
...esse respeito burro, imenso
que temos com o fascismo
...sempre a merda do fascismo!

O mundo virou esse poço
em que estamos até o pescoço
de milicos e “excelentíssimos”:
escorados no teu egoísmo
Se não fosse tua preguiça
de carona na injustiça       social
e descumprindo a premissa
de que o ser humano nasceria   igual
Apatia é coisa contagiosa
mas tua cumplicidade, criminosa

Sei que me saem atravessadas
mesmo assim falo essas palavras
pois quem só pede por favor
se deixa ao jugo do agressor
e a voz não pode ficar calada...
pois muita coisa conquistada
no campo duro da liberdade
conquistada por muito sangue
– e que nunca foi estanque –
nos é surrupiada sem alarde

...usurpada à mão armada
    surrupiada na mão grande
    e por mais que a gente ande
    e avance pouco ou quase-nada
    após cada mudança alcançada
    vem sempre o ricochete
    algum golpe sujo, vulgar
    reacionário, prepotente
    dos que só querem nos usar
    como se fôssemos joguetes

E pra cada pequeno triunfo
já revidam com pérfidos trunfos
forjados, perversos, incoerentes
tentando deter o presente
e desviar a trilha do futuro
pra um mundo louco paralelo
onde as lutas não deram frutos
onde é o reino do flagelo
vivendo debaixo dos coturnos
na penúria... aos farelos

Por isso que precisa, amigo
pelear uma vez e muitas mais
pra avançar em sermos iguais
e quantas mais for preciso
pro tempo não voltar atrás,
...pois no jogo não teremos um ás
   lembra que fascistas são bandidos
   e viram a mesa assim no mais!
   são golpistas muito afoitos

   na cola de dois mil e dezoito

os mesmos assassinos imorais
não têm heróis nem ideais
só te querem capacho ou morto
é só a marca do fascismo
misto de mau-caratismo
são inimigos da verdade
tão sempre travando o ritmo
da toada das liberdades
Mas quê esperar da laia maldita?
Nada pior do que um fascista!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

hoje acordei mais cedo
talvez pela voz do vento
antes do sol chegar e ir embora da minha sala
tive uns bons cinco minutos
antes de você aparecer na minha mente
depois que decidiu sumir da minha frente
já não dava as caras, em absoluto
 
e sua visagem ali me vendo
(um lógico estranhamento)
e agora você sem falar, sem se mover nada
sem dramas, sem estar brava...
parei assistindo você ficar transparente
até sair pelo próprio lugar em que estava
evanescendo lentamente
 
hoje fiquei amanhecendo
(é alguma coisa aqui por dentro)
antes que o rádio pudesse latir bom-dia
e a tv dar notícias requentadas no café
teu rosto ficou impreciso como outro qualquer
(essa imagem que encarna em fisionomia
o ser de cada um e que mais ninguém é)
pra mim há muito já perdeu sua fina sintonia
mas não sentia curiosidade sequer
e das cores reais que tinha
passou a cinzas, cores frias...
 
e assim foi como seria...
hoje, que nem um vigia
eu ainda vi o final da madrugada
tua   voz  de   vidro
decantou do espaço com a última geada
depois, confesso, cometi um breve pensamento
quase   que   fugido:            
o de pensar que sonho é uma terra encantada
e então olhar se não é só desperdício de tempo    



 


(payada dos) caminhos

existe um fugitivo instante
na última brasa do poente
e do Hoje se perde o alcance
como se encerra uma prece
um sol feito de cobre desce
da tarde pra voltar ao ventre
da Mãe Terra qual fosse gente
que bota a gente pra pensar
voando com as coisas do ar
e em como tudo...   vai passar

e dessa inveja e admiração
que eu sinto dos passarinhos
voando livres entre os vãos
das árvores e dos edifícios
eu sossego nas canções da rádia
nesse cavalo sem rédeas
que minha história me tornou
na minha vida eu me instauro
eu sou ela e ela eu sou
mesclados que nem um centauro
é que eu não sou um dinossauro
e de fato, estou aqui e agora
mas nunca tive tempos áureos
só que eu é que não salto fora
e no piche dos asfaltos pretos
que é como o visgo dos pântanos
não sou eu quem aí me meto
mas encaro os caminhos tantos
tantos quantos eles vierem
e em que vou por seus revezes

a mudança é pra quem faz
o mundo precisa de socorro
pra não voltar aos males de atrás
e ainda ter que ouvir o choro
de poderosos de barriga cheia!
isso é o cúmulo da chiadeira
é o covarde falando grosso
o poste mijando no cachorro
pro mundo não ficar mais doente
tens que saber o que é ser valente:
anda junto ao tempo, não contra!
anda pues! a vida já é outra,
ainda bem, não é antigamente
até eu, que envelheço, já vi
quanto mais quem é um guri
que nem tu, tão inteligente
então quando por acaso encontras
algum conservador dessas afrontas
que nos atocham diariamente
não sê um desses delinquentes

...porque essa atual liberdade
que não conheceu teu ancestral
e teu avô e teu pai, mal-e-mal
e que a alguns ainda desagrade
...ela não foi feita das promessas!
e sobre essa desigualdade
que é um dogma tão radical
que não aceitam nem conversa
e que sempre foi assim e tiau
ora, não me venham com essa!
...pois o que lhes falta é hombridade!
dos que se adonam da verdade
com discurso e cara-de-pau
mas por mais que se lhes peça
com educação e honestidade
uma escuta, uma palavra
sobre o valor da liberdade
ou dão de ombros ou de pialo
não tem um que se salva
disposto a sequer escutá-lo

a tradição tem sempre dois lados
e a transformação é o esperado
pois do contrário é escravidão
e isso seria viver em vão
Então, guri...      cuidado!
não vai viver do lado errado
puxando maldades do passado
e virar um infame guardião
de velhos hábitos equivocados
pra que não veneres algum vilão
...então, guri, toma cuidado
quando alguém enche a boca
pra dizer que tua parte é pouca,
dizer que tem lugar marcado
cuida! ...com gente que se faz de louca
mas que suas cagadas não assume
cheia de rancor e azedume
pra se valer te dando bronca
invocando uns tals costumes
mas que tem cheiro de um curtume!

e seguimos que nem cardumes
tropilhas, revoadas, nuvens...
rumo a ideias, aos sonhos
que avivam naquela hora longe
onde o dia recolhe seu lume
e    o  sol    vai    se      pondo
além do arco do horizonte
partindo rápido mas devagar
como que deixando seu olhar
...e de novo a pensar me ponho...
         no quanto o mundo tem que melhorar!

 

 

*rádio