segunda-feira, 9 de novembro de 2020

 quem é que às vezes não quer
nada mais que uma bebida?
...seja ela o que for
mas que tenha um só efeito
que possa dar um jeito
no que a estrada veio impor
 
...algo que nos permita esquecer
ou só deixar mais escondidas
as coisas que causam dor
o que é que acalma o peito
quando é na alma o aperto
me digam, ...  por favor
 
pega aí meu exemplo
tem coisas que eu já nem tento
vou reto buscar um placebo…
porque se tivesse remédio...
se tivesse algum, eu tomaria
 
isso é só desespero
e eu só queria você aqui perto
o que vale já foi pro brejo
se ao menos eu tivesse com tédio
pode escrever, eu bem que preferia
 
eu ia me prescrevê-lo direto
em vez de tragar a agonia
pra não estragar a alegria
ou dela uma vaga ideia
onde o ideal é só fantasia
 
como suportar o Deserto?
o que houve com aquela magia?
...aquela que tão forte existia?
pro coração não tem amnésia?
algum tipo de anestesia?
 lista
 
. reunir os temas;
. fazer poemas
  como listas de supermercado;       
. cuspir as fleumas
  de corpo e alma;
  difícil é não ficar engasgado
. criar problemas;
. deixar os traumas
  a segundo plano relegados...
 
  pois os meus não serviram
  alguns deles são tão banais
  outros foram muito severos
  a seu modo são todos demais...
  só queria fazer uns versos
  que fossem pelo menos sinceros
 
. jantar com ninguém;
. juntar-me com alguém?
  então é isso que me esperava...
  eu tinha pena de quem
  na vida não tem
  o que eu tinha e se desperdiçava
 
  tudo ficou mais triste
  com a peste em 2020
  a solidão que nos contagia
  nos protege da covid
  mas vou custar muito ainda
. a achar graça nessa ironia
 brava gente gentil
 
Tal qual qualquer qüera que quer a “guerra”
contra as tristezas na cara curva da Terra
encontro-me encruado na encrenca que me emperra
 
Encurralado, atracado com a fera que me ferra
enjaulado no jazigo injuriado junto às pedras
sem jurar justiça ao jugo sujo que nos perpetra
 
Em novembro a brava gente gentil do Brasil celebra
e fica braba cada um quieto no seu quadrado
enquanto na quadra tá tudo tranquilo, quem dera...
e em Nove do sete se sente que segue o todo tal como era
no país com os golpes a galope de gangues de engomadas
grupos gananciosos armados de grana e seus capangas
com gravatas, togas, fardas, com cinismo e engodos
gordos sanguessugas que se agarram à goela de quem sangra
e com bafo bufam e berram sua birra bizarra e abafam
as vozes vilipendiadas por pancadas, fome e fogo
violência velada viola o vigor de viver, eles se safam
ávidos e viris por vantagens e vitórias vis,
vírus vorazes avançam, velha verve vulgar que sempre vi
 
Entretanto tem tanto tolo lutando metido a taura            
todos auto-torturados e tontos
por um tétrico hipotético direito um tanto quanto hipócrita
de matar e ser morto a torto e direito como torpes idiotas 
típico de direita distópica dos trópicos e sub-trópicos



quinta-feira, 5 de novembro de 2020

 Ministério da Matança
             
emporcalhando o céu do planeta
insuflando o próximo ciclone
enquanto na esteira da sujeira
planejam a próxima grande fome
 
o fogo antecede as motosserras
nuvens sujas surgem e sugerem
uma raça rasteira que se insurge
contra o sacramento da Mãe-Terra
 
a soja e a fome ainda convivem
alimentam um sistema surreal
se consomem desde a origem
...seremos todos homens maus?
 
rapinagem, humilhação e tortura
planejando as próximas ditaduras
matança, matança, matança          
de mulheres, homens e crianças!
mortes nos calam, a mentira avança
conformismo é o fim da esperança
 Anhangás
 
cães causando distúrbios
em nome de ideais dúbios
com deturpados discursos
cercando suas caças
ora ardilosos, ora súbitos
deixando em carcaças
derrocadas democracias
 
são novos Anhangás
gatunos garantindo
velhos modos de ganhar
negacionistas negociam
para a grande maioria
o futuro mais fudido
que lhes possa abastar 
com as esferas federais
com o FMI famigerado 
o destino dos flagelados
já está bem assegurado
passando longe da paz 
está sempre preparado
com farto arame farpado 
 
Anhangás
 
furiosos lobos fazendo lobby
babando bílis em seus bigodes
levando lépidos o que se pode,
o que é aceito que eles robem
Robin-Hoods ao contrário
não passam de larápios
por trapaças é que sobem
 
Anhangás
                                                        
liberalismo lambendo ricos
sem jamais lembrar do resto,
do rosto da gente indigesta
e que leva a marca na testa
de piores pobres inimigos

 “_É o povo que não presta!”
tu ainda não sabes disto?

Terno e gravata. (Foto: Canal Ciências Criminais - JusBrasil)
 marcha autofágica
 
o plástico colorido desses objetos tão legais
é o plâncton paleolítico que alimenta nossas máquinas
este chão está cheio, consumido por veículos demais
poluição espaço-física numa marcha autofágica
solapando solo de um país incapaz
 
(automóvelfagia)
 
nesse ar encardido, no cheiro das fábricas
tudo se desmancha e depois se refaz,
arde em fogo fecundo feito fênix fatais:
tudo o que é sólido, vivas abstrações,
sistemas invisíveis e velhas sensações
 
(marcha autofágica)
                  
tão sujando o mundo com mentiras nevrálgicas
frutas apodrecem, perecem espécies
pessoas fenecem, falham instituições
falácias se fixam firmes em ideais débeis
de jovens gerações de covardes corações
 
 (mentiras nevrálgicas)
tormentas não são questão de escolha
não tem ninguém que se salve
mas ranço é o gosto das coisas
que não melhoram com o tempo
e por mais que ele ande suave 
há coisas que não vêm a contento
então como se pode reagir 
ao que ele traz em suas vagas?
se no passado se prende o porvir
como vão se fechar nossas chagas?
 
é quando tudo perde toda a graça
(quem já não ficou assim?)
talvez amar seja mesmo uma praga
(penso cada vez mais que sim)
em algum momento tudo se apaga
um grave abismo se deflagra
o vazio… ele não passa
é só a gente que disfarça