sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

gestando cérebros
de gente já nascida
entre cubículos
de vidro e eucatex
em ventres de prédios
de contextura insípida
labirintos sucessivos
(estamos em xeque!)
materializados em aquários de ar
casualmente a nos transformar
nesses peixes de duas patas
metade ciborgues telepatas

somos virtualmente mutantes
mas do lado real das telas
e das páginas sufocantes
não seria um aviso de alerta?

sou um robozinho pela cidade
para minha própria facilidade
(ninguém falou em felicidade)
em meio à esta estranha trama 
a quarta dimensão é a socioespacial
numa placa de circuitos magistral
feita de material e carne humana
reiniciada uma vez por semana

no ônibus, metrô, catraca no edifício
como tudo ficou tão fácil pra ser difícil?
eu procuro a paz nas esquinas
ainda quero ver se ela nos contagia
afinal, dividimos a mesma sina
nas catarses controladas distribuídas
pela desesperança vasta das rotinas

eu procuro o antídoto pelas ruas
e mal descubro alguma ternura...
comandas, cartões, assinaturas:
atestados de que a vida é dura
carimbos invisíveis nas nossas figuras
que carregamos como emblemas
fica tudo registrado no sistema:
esse grande mar de algemas!

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